Friday, December 31, 2004

Un Giorno Migliore

Depois que formulei a teoria de que falar italiano emagrece (depois eu explico melhor) e como pretendo colocá-la a prova esse ano de 2005 pra depois escrever meu best-seller de auto-ajuda do tipo " Emagreça parlando", aí vai uma musiquinha muito bacana em italiano. Infelizmente não consigo incluir uma música aqui, mas é tipo um twist, bem animadinha, vai imaginando aí. De Paolo Belli, Un Giorno Migliore.

Oggi puo' essere un gran giorno
che ti sorriderà
credi nei tuoi sogni
il mondo splenderà

Gli occhi, chiudi gli occhi
e sogna quello che ti va
quando apri gli occhi
e un gran sole ci sarà

Ti senti libero
Perfetto
il cuore elettrico
l'animo fantastico

Guarda le tue mani
hanno grandi desideri
credici nei sogni
Al ritmo del tuo cuore

Oggi puo' essere un gran giorno
Datti un'oppurtunità

Sessão

Acho que começou quando era pequenininha. Esses traumas de primeira infância. Quando eu pedia pra minha mãe me pegar no colo, e ela, com meu irmão que era bebê nos braços, dizia que eu já era grandinha e tinha que ficar no chão como uma boa menina. De lá pra cá, fiquei tentando ser boazinha pra esconder o ciúme.

Freud explica. Mas quem resolve?

Eu quero minha parte em éter.

Thursday, December 30, 2004

Loucura mesmo é a lucidez. É olhar pra dentro de si e tomar consciência de tudo de uma vez só, tudo aquilo na ignorância poderia ser bliss. Eu achava que enlouquecer era diferente. Eu esperava perder a noção, ( e isso parecia bom). Mas não se perde os sentidos, encontra-se outros.

Wednesday, December 29, 2004

Amore ovunque

Volto no tempo querendo precisão. Quando tudo começou exatamente. E não encontro. Continuo a procura lúdica, um daqueles momentos que a gente imagina vir com uma legenda dizendo: é agora, é isso, é tudo. Mas, uma vez acontecido, espalha-se por toda a memória o verniz do amor e volto atrás um milhão de vezes, (principalmente antes de dormir), e encontro tudo embebido na sensação de agora que é clara, forte e magnífica. E me desafia de novo a força de algo que começou assim do nada (ou do tudo), e mistura todos os tempos no meu coração. Volto no tempo, quando? Mas a resposta é sempre.

Wednesday, December 15, 2004

Isso suga!

Foi o que apareceu na legenda de um filme que passava outro dia na TVA quando um garoto disse "It sucks!".

Eu juro.

Monday, December 13, 2004

A cada ano que passa fico mais surpresa com as decorações de natal no Brasil. (Mentira, meu pessimismo de auto-defesa me faz imaginar, aliás ter certeza, de que pode ser pior, muito pior sempre*.) Mantas de amianto enroladas em fitas metálicas (ou algum similar), sim, fitas metálicas de péssima qualidade dappertutto, em laços mal-feitos, renas iluminadas piscando junto com parcas árvores enroladas em jogos de luzes provenientes da 25 de Março e o abominável spray de neve... Oh Deus, o problema não é o Natal ter se transformado num feriado comercial e ter perdido seu real significado. O problema é ter se convertido num feriado de mau gosto.

*Filosofia de vida, aplicações metafísicas.

Sunday, December 05, 2004

... e vou vivendo...

É inútil tentar negar. Só quando bebo minha letra (oh yeah, my handwrite) fica linda. E geralmente tenho boas idéias (ok, arguable...).

Besides that, nothing says louder "you look wonderful, darling!" than a twinkling glass of something on the rocks.

(Acabo de assistir a Bridget Jones e constatar minha frágil natureza...)

Tuesday, November 23, 2004

Se me permitem, um pequeno aforismo Alexandrino, desde que fui demitida, tenho vivido avidamente meu lado caçula - que è aquele nosso lado totalmente desprovido de anal retentiveness - ainda bem que aqui è barato beber vinho bom!

Bibliografia sugerida: A coisa nao-deus, Alexandre Soares Silva.

Monday, November 08, 2004

"I know I need therapy, but only once I would much rather kill someone. Just once..."

From the Memoire of Angela O'Keefe.

Thursday, October 21, 2004

Meu alter-ego fuma.

Eu mesma nao fumo mas, sempre que me imagino, me vejo fumando. Meu alter-ego è muito mais charmoso do que eu.

Tuesday, October 19, 2004

Cada vez que me perguntam porque estou na Itàlia, a reposta è diversa. Funny enough, sò tem uma resposta certa. Sim, aquela mais òbvia. Mas enfim, isso là è pergunta que se faça? Porque estou na Itàlia?, problema meu, oras bolas, nao pedi dinheiro emprestado pra ninguèm pra vir pra cà. Nao devo satisfaçoes a ninguèm, mas o povo italiano è estilo "dona-matilde-do-biscoitinho-de-nata" e quer saber tudo. Eu me divirto inventando respostas. E conjugando verbos de maneiras impensàveis aos ìtalo-parlantes. Italiano è foda - refiro-me a lìngua, por favor. (E o duplo sentido continua firme...)

PS: 23 minutos no Cyber Cafè sò saiu isso, me perdoem (nao sei como escrever essa palavra, confesso e aqui nao tem til).

Thursday, October 14, 2004

Tanta coisa pra postar e tao poucos minutos no cyber cafè. Tao poucos acentos...

Tinha atè uma foto do candidato napoletano a deputado que se chama Labocetta - eleiçao na Italia è outra coisa. Napoli inteira vota em boceta, opa, Labocetta. E quem nao votaria?

Alias, vencer eleiçao em pais onde o horàrio politico nao è de graça è outra història, nè? Olha là o Kerry gastando a fortuna da familia ketchup, suando seu rego pra bater no Bush nas pesquisas e estatisticas. Enquanto isso, na maravilhosa cidade de Sao Paulo... bem feito.

A dopo, carissimi.



Tuesday, September 28, 2004

Bla

Dias repletos da minha propria cheap philosophy. Sò assim me consolo. Leio sobre a tal da Cabala. E, de certa forma, isto me desconcerta. Ler o best-seller que mudou a vida de Madonna e tantas outras estrelas, nunca me foi atraente. Mas enfim, confesso, leio, estou na metade e ainda nao entendi nada. Por isso digo e digo de novo que nao sei nada, menos que nada, o além-nada dos meus neuronios. E esta reclamaçao toda me faz lembrar da adolescencia. Eh, a fase mais chata da vida em todos os sentidos. E ao mesmo tempo, como um polvo num labirinto (juro que ja vi uma reportagem sobre polvos em labirintos), me sinto sendo testada por alguma entidade superior pra ver se eu consigo sair dessa. Vai ver que é a Cabala. (Repare no 'C' maiùsculo, respeito com a Cabala, rapaziada.)

Agora deveria falar sobre o turismo acidental. Nao faz sentido, absolutamente. Preferiria ser um daqueles americanos-de-viseira-em-dia-nublado, batendo no vidro do aquario, bem embaixo de uma placa que pede o favor de nao se bater no vidro, do que ser essa versao descabida de gente em outro paìs. Eu sou gente de outro paìs. Pronto. Turista nao. Mas enfim, o que somos, pra onde vamos, de onde viemos e, sobretudo, o que fazemos aqui?

Em outra nota, deveria dizer que o turismo aqui em Genova tem a caracteristica de ser acidental ou, assim me parece. Nao consigo imaginar o roteiro turistico contendo: dia tal, hora tal - Tarde em Genova, degustando o verdadeiro pesto. Noite - empanturrados de pesto e focaccia, partida para qualquer localidade. Mas vale a pena. O pesto, a focaccia, o Porto Antico, que eu adoro, de onde teclo nesse exato minuto e todo o charme milenar da cidade. Eu adoro velharia. Deveria abrir um antiquàrio. Isso é, se conseguisse desfocar do meu lindo umbiguinho e começasse a olhar em volta. Mas é dificil, é imensamente dificil. Esperemos que a Cabala tenha o efeito esperado e possa me ajudar a resolver todos os meus problemas. Ou entao, procuro o Walter Mercado.
"There's an old joke. Two elderly women are at a Catskills mountain resort, and one of 'em says: 'Boy, the food at this place is really terrible.' The other one says, 'Yeah, I know, and such small portions.' Well, that's essentially how I feel about life. Full of loneliness and misery and suffering and unhappiness, and it's all over much too quickly."

A point of view from Annie Hall.

To read more, click here.

Friday, September 24, 2004

Mais que nada

N. da E.: infelizmente sem acentos... cyber café italiano...

Antes me consolava pensando que nada sabia. Oras bolas, nao saber qualquer coisa era apenas uma pequena parte momentanea do meu nao-saber, doença jà conhecida, tipo aquela enxaqueca que vem de vez em quando, a gente nem liga muito, toma-se uma Neosaldina e pronto. Agora, infelizmente, quanto mais eu reparo menos eu sei. Estou falando de menos que nada. Ou mais que nada. Sei là. Como aqueles cientistas que a cada ano descobrem que o universo é maior do que eles imaginavam. O nada também. Cada ano que passa, como um big bang ao contrario, coisas que outrora faziam sentido simplesmente se desvirtuam, e meu nada cresce exponencialmente.

Quando releio livros, posts, cartas, certas vezes, é como se eu nunca os tivesse lido antes, e me assusto: a memòria é o buraco negro do meu universo nulo. E eu nem sempre me reconheço ou reencontro as impressoes de antes.

E, apesar de tudo isso, é a primeira vez na minha vida que estou feliz com o tamanho da minha bunda.

Deveras, it doesn't make any sense after all.

Monday, September 06, 2004

Senza Senso

Impressionante como, de perto, a realidade parece mentira.

Me belisca?

Sunday, August 08, 2004

"Parou por quê?" dizia a analista quando eu fazia longas pausas no meio do que estava dizendo. Era como se ela me lembrasse de que cada minuto ali contava - no sentido financeiro também. Eu estava pagando pra ficar em silêncio. E pra fazer digressões que na maioria das vezes não faziam sentido algum. É, fazer análise é assim. Sempre me perguntam como é que é, o que ela fala pra você, ela fica perguntando etc. Pois então, ela pergunta sim, com um certo descaso, "parou por quê?". O que ela queria dizer, mais do que 'seu tempo está acabando' (que não deixa de ser uma verdade metafísica), era que a história superficial perdia o sentido, perdia o interesse, em virtude de alguma outra coisa. Essa outra coisa vinha guardada em silêncio e doce contemplação. Era muito valiosa, mais até que os custosos minutos freudianos. E essa coisa que vinha interromper a análise, era de fato a matéria da análise, era o quê se queria encontrar lá fundo de cada historinha corriqueira. Mas então, parei porque o que apareceu é tão importante pra mim, tão precioso, que danem-se os minutos pagos...

Parou por quê?

Porque tá mais legal a vida real do que escrever blog.

Thursday, July 29, 2004

49. Revolution

Lake over Fire.
You must destroy all your bad ideas.
Seek change, as the traditional way is no longer suitable.
You must undergo a radical transformation in order to find your road to success.

E, se o I-Ching está dizendo, quem sou eu pra ir contra?!

Monday, July 19, 2004

- Look, if I die, Al, tell Ellie I'm sorry I said all those things to her. I said terrible things to her. I called her all kinds of names. Probably because I never stopped loving her.

- You're not dying.

- Well, if I don't die, tell her she's a tramp, and she's living with a guy the best you could say about him is sometimes he returns phone calls.


Romance, hypochondria and redemption from "Hollywood ending", by Woody Allen.

Thursday, July 15, 2004

Once in a lifetime - Talking Heads

And you may find yourself living in a shotgun shack
And you may find yourself in another part of the world
And you may find yourself behind the wheel of a large automobile
And you may find yourself in a beautiful house, with a beautiful wife
And you may ask yourself - Well...How did I get here?

Letting the days go by/let the water hold me down
Letting the days go by/water flowing underground
Into the blue again/after the money's gone
Once in a lifetime/water flowing underground.

(...)

And you may ask yourself
What is that beautiful house?
And you may ask yourself
Where does that highway go to?
And you may ask yourself
Am I right?...Am I wrong?
And you may say to yourself
MY GOD!...WHAT HAVE I DONE?


(...)

Same as it ever was...Same as it ever was...Same as it ever was...
Same as it ever was...Same as it ever was...Same as it ever was...
Same as it ever was...Same as it ever was...

Monday, July 05, 2004

"... depois foi encostar-se a uma das duas janelas que davam para o mar. Cinco minutos depois, a vista das águas próximas e das montanhas ao longe restituía-lhe o sentimento confuso, vago, inquieto que lhe doía e fazia bem, alguma coisa que deve sentir a planta, quando abotoa a primeira flor."

Machado de Assis, no conto Uns braços.

Ah, eu adoro as sutilezas machadianas...

Thursday, June 24, 2004

- So, what's the problem? Tell me.
- Ok. I'm in love.
- Ufff... I'm so relieved!
- Why?
- I thought it was something worse.
- Worse? Worse than the total agony of love?!

Dialogue excerpt from 'Love Actually'.

Thursday, June 17, 2004

Flatliner

Ontem, durante uma reunião, eu juro que entrei num estado de coma leve. Quase tive morte cerebral. Mas, graças ao movimento do meu maxilar mastigando um chiclete, um mínimo de células cerebrais se mantinham ativas e não houve sequelas. Quer dizer, eu acho que não.

Friday, June 11, 2004

Murmullo

Hay un suave murmullo
En el silencio de una noche azúl
Son dos enamorados
Que, encantados, gozan del amor.

Y ríe la vida y qué dice así: Ahh, ahh...
Y ríe la luna y qué dice así: Uhmm, uhmm...

Afinal, mesmo despeitada, ainda faço questão de manter o romantismo... Aahhh, uhmmm...

Wednesday, June 09, 2004

Tacones Lejanos

Eu não sei lidar com a frustração, sabe, eu tenho vontade de rasgar todo o forro do sofá, de quebrar toda a louça, de atirar copos e vasos contra as paredes da casa... tipo novela das oito, sabe, acho que no fundo é tudo culpa das novelas das oito, que fazem a gente criar esse repertório maligno de ataques de cólera, e se não fizermos isso, parece que ficou faltando o gran finale, parece que nem estamos tão bravos, pensa bem, que coisa melhor pra demonstrar angústia e frustração do varrer com braços raivosos uma penteadeira inteira cheia de perfumes, coisinhas, vidrinhos, e ver tudo cair no chão? Nada pode aliviar tanto. Eu quebrava todas as minhas bonecas, arrancava os braços, as pernas, rabiscava a cara delas, eu acho que no fundo não é culpa das novelas, no fundo eu já era assim, eu já tinha esses ataques, essa vontade de destruir alguma coisa pra passar a raiva, mas tem que ser alguma coisa repentina, não adianta eu chegar lá em casa e ficar esmurrando uns travesseiros, dizendo os nomes da minha lista negra, sabe, isso não adianta, ajuda um pouco, mas sempre me sinto ridícula, entende, o legal é chegar com a cabeça fervendo e ver pela frente alguma coisa que a gente possa chutar assim, logo de cara, quebrar, atirar... tem um vaso lá em casa, um vaso horroroso, que a menina que mora comigo, adora, não consigo entender como, o negócio é um elefante branco que ela mandou trazer do México, deve pesar mais de 50 quilos, juro por Deus, fica num canto da sala, e me é muito pertubadora a presença daquele vaso, que ela chama de urna, ainda mais urna, coisa fúnebre... agora me imaginei com o martelo, que eu comprei pra pregar uns quadros, martelando aquele trambolho até virar 50 quilos de pó no chão, ia ser bem relaxante, é, mais até que shiatsu. Mas não dá, e como não tem Yoga hoje, vou fazer compras.

Final no. 2

Angela O'Keefe termina o show - ou seja eu, no meu sonho. Entro em meu camarim e olho para as flores com um sorriso misterioso nos lábios, (sempre misteriosa, sempre misteriosa). Abro o cartão. Alguns segundos de silêncio seguem. Sirvo-me de gin, straight up. Ando de um lado ao outro do quarto. E então, tomada de cólera, rasgo o bilhete e atiro o vaso de flores contra o espelho. Assustados com o barulho, entram correndo em cena Butch Rigby e Stu Francis, este último, o pianista. Butch exclama com reprovação "Not again, Angie, not again!". E eu, colérica, já um pouco bêbada e entre soluços diria "You just don't understand, Butch, you just don't get it!" - aqui, encostada na parede, com o copo na mão, escorregando vagarosamente até chegar ao chão (sim, como aquelas cenas de novela das oito). Stu tentaria me levantar, mas irritada eu gritaria "Get out, get out, leave me alone, let me be!". A câmera seguiria Stu e Butch até o bar onde em silêncio trocariam olhares preocupados. Corte. A câmera voltaria para meu camarim, onde eu estaria tirando a maquiagem, vestida agora com um pegnoir amarelo com plumas na gola e mangas, chorando profusamente. A seqüência termina com um plano geral do bar, onde Stu e Butch bebem algo e Jules McMannus, o barman, diria "Life goes on. She'll sing tomorrow, I know she will".

Tuesday, June 08, 2004

More than you know...

Imagine um piano de cauda, um saguão de um hotel, à meia luz, algumas mesas têm velas acesas, outras não, fumaça cria texturas pelo ar. O pianista entra, mas as pessoas continuam a sacudir as pedrinhas de gelo dentro de seus uísques, produzindo um tilintar contínuo. Ele estala os dedos, timidamente, e começa a dedilhar o piano. De repente: silêncio. Imagine uma mulher ruiva, irretocável, vestido preto, baton vermelho, entrar flutuando pelo palco. Sou eu. (Tá, tá, tá, eu confesso, eu sou a Rita Hayworth em meus sonhos.)
Então, com ar triste e misterioso, em parte por culpa do cabelo que esconde um olho e meia maçã do rosto, eu (ou a Rita Hayworth, caso o leitor não me conheça pessoalmente)começo a cantar:

More than you know
More than you know
Man of my heart, I love you so
...Aqui eu desencaixo o microfone do tripé e começo a caminhar...
Lately I find
You're on my mind
More than you know
...tomo um gole de um copo de uísque de alguém na platéia...
Whether you're right,
whether you're wrong,
Man of my heart, I'll string along
I need you so
More than you'll ever know...
Agora eu acendo uma cigarrilha em uma longa piteira e sento-me em cima do piano e o resto do show fica ao gosto do leitor. Lembrem-se que o strip-tease seria apenas tirar as luvas e depois sacudir a cabeleira.

E quando eu me retirasse para meu camarim - "Changing Room of Ms. Angela O'Keefe" (esse é o meu alter-ego onírico) - eu encontraria um buquê de rosas - vermelhas, é logico - leria o cartão e daria sonoras gargalhadas. Sem nem me trocar, retocando apenas o baton e o perfume, sairia com pressa, sem esquecer um casaco de pele. Um Bentley já estaria me esperando e Butch Rigby, o dono do bar do hotel, viria correndo atrás do carro, mas não nos alcançaria. Arrancaria o chapéu e o bateria contra a própria perna de tanta raiva e... curiosidade. Ninguém poderia saber de quem eram as rosas.

Thursday, June 03, 2004

The book is in the fireplace.

N. da E.: Pode ser um spoiler para o filme "The day after tomorrow", mas eu acho que não.

Nove personagens, mais ou menos, presos numa biblioteca em Nova Iorque, sem eletricidade e a temperatura caindo bruscamente, resolvem queimar livros numa lareira secular para se manterem aquecidos. A bibliotecária engole seco, soltando um pequeno gemido mas, as far as she is concerned, é capaz de não sobrer ninguém no fim do filme pra ler livros... Um segundo bibliotecário e uma adolescente saem para buscar livros pelos corredores da biblioteca.

Faço pausa pra reparar como esta profissão teve destaque nesse filme: 2 bibliotecários entre 9 pessoas. É de se pensar se não foi coisa de sindicato contra Hollywood, dizendo que tal classe nunca havia sido representada na big screen etc... But I digress.

Bom, voltando ao filme, rola uma discussão entre os dois, porque a mocinha quer queimar alguns volumes de Nietszche e o bibliotecário resolve fazer um discursinho sobre qualquer coisa como Nietszche ser o maior pensador do século XX - afinal o filme é de ficção mesmo - até que outro personagem chega e diz 'deixem disso, rapaziada, vamos começar pela sessão de direito'!
Todo mundo respira aliviado: claro! vamos queimar as leis, o mundo está acabando mesmo...

Alguns minutos mais tarde, a garota e o bibliotecário se enfrentam novamente. Ele abraçado a um livro grosso, pesado, antigo. Ela vem curiosa e ávida por uma boa briga, que me parece bem verossímil no caso dos adolescentes, e pergunta 'Que livro é esse?'

Era a Bíblia. Ela diz, irônica, ' Você acha que Deus vai te ajudar, huh?'

Ele diz com desdém 'Claro que não! Eu só estou salvando essa bíblia porque foi um dos primeiros livros a ser impressos ever in the history of humanity. If human civilization is going down as we know it, I want to save a little piece of our culture, of our times..., ou qualquer coisa do gênero. Bullshit. Double bullshit.

Agora, sejamos francos, se uma tsunami tivesse invadido NY, uma nova era do gelo estivesse se abatendo sobre todo o hemisfério Norte e você estivesse preso numa biblioteca com uma adolescente irritante, você não ia pedir a Deus pra te salvar?!

Sei, sei. Conta outra.

Moral da história: os livros salvam.

Monday, May 31, 2004

Só danço samba

"Só danço samba
Só danço samba, vai, vai, vai, vai, vai
Só danço samba
Só danço samba, vai
Já dancei o twist até demais
Mas não sei
Me cansei
Do calipso ao chá chá chá
Só danço samba
Só danço samba, vai, vai, vai, vai, vai
Só danço samba
Só danço samba, vai..."

Celebrando a camiseta "Proud to be Brazilian" que ganhei defendendo "o jeito nas cadeiras que ela sabe dar" - só elas, as brasileiras.

Friday, May 28, 2004

Cri cri, cri cri. (meu celular tocando)

- Fala, criatura...
- Ai, precisa falar assim comigo?
- Como é que vc consegue me encontrar sempre, hein, Clara?
- Sei lá, sempre que eu pego o telefone e disco qualquer coisa eu encontro você. Deve ser algum recurso cênico ficcional, sei lá.
- E aí? Como anda a Sumatra? Ninguém entendeu seu email... Você tá feliz ou triste?
- Então, tipo assim, eu tava ligando pra você por isso... eu, eu, eu não sei direito...
- E?
- E aí eu queria que você me dissesse o que é isso, porque eu não sei. Pronto, falei. Não sei. Sei lá, tá tudo sem sentido, sabe, não sei, não entendo, não consigo ver o sentido dessa história toda, você me entende?
- Mas, Clara, a vida e as histórias são assim. A Odisséia: Ulisses tinha que ir pra Tróia e Penélope tinha que esperar 20 anos. Pronto. Em Otelo, Iago tinha muita inveja, next thing you know, Desdêmona è morta! Sei lá, na novela Vale Tudo, a Maria de Fátima...
- Tá, tá, tá... Mas quando é que eu vou get the big picture, quando é que esse momento vai chegar pra mim, e as coisas todas parecerão se encaixar?
- Minha filha, nessas horas é melhor relaxar e seguir o roteiro...

Thursday, May 27, 2004

Sumatra - 27 de Maio de 2004

As cores, os sabores, os perfumes e os rostos. A Sumatra é linda. E distante. Distante do ontem, do antes... Talvez tenham sido as mais de 20 horas no avião, mas quando cheguei aqui, senti uma elipse temporal inigualável, era como se tudo fosse diferente, tudo novo, completamente novo, nem me lembro mais do passado, nem me lembro de nada. E agora? E agora, e agora, de fato só existe agora mesmo, o já, o instante. E eu não quero perder nem um segundo. Mando mais notícias outra hora.

beijos, Clara.

Wednesday, May 26, 2004

Declarações contundentes

"...O amor é brega mesmo. Brega, kitsch e cego, principalmente cego. Senão, não seria tão divertido (e necessário) ficar se apalpando."

Extraído de "Diálogos improváveis pelo MSN" com a Luana, que não me deixa mentir.

Wednesday, May 19, 2004

Bom mesmo era a Grécia Antiga. Onde se podia contar sempre com algum oráculo. E se você não fosse ao Oráculo, Cassandra vinha até você, e sa com'è, não tinha mas nem meio mas. Agora, a dúvida.

Tuesday, May 18, 2004

No aeroporto...

- Ei, ei, ei! agora finge que não me conhece, é?
- Ai meu Santo Deus....Que que cê tá fazendo aqui, hein, Clara?
- Tô indo pra Sumatra, atrás do Paulo, lembra dele? Das palavras cruzadas e tal. E você, tá indo pra onde?
- Não te interessa, eu não dou satisfação pra personagem! E deixa de ser boba... Sumatra...você só está aqui no aeroporto, porque eu tô no aeroporto, entendeu? Sua vida nada mais é do que um "spin off" da minha, sacou?
- Ah é, é?
- É.
- Mas, escuta, você está voando de primeira classe?
- Claro que não.
- Pois é, eu estou.
- Com que dinheiro?!
- Que dinheiro? Boa pergunta. Não importa. Minha vida é só história mesmo... Champanhe a bordo, cadeiras que reclinam 180 graus, guardanapos de pano... Afinal de contas são 22 horas de vôo... e eu me permiti essa pequena extravagância ficcional...
- Ai, sua cachorra! Depois, vem me pedir "Deus ex Machina", vem, que você vai ver... Não se esqueça que a escritora, que sou eu, está de férias.

Saturday, May 15, 2004

Yin Yang

Viajar é maravilhoso para se expandir o repertório dos sonhos. Já no avião, na volta, me divertia com vários de meus amigos, comigo, numa ruela de Genova, todos agasalhados inclusive, de acordo com o frio que fazia. Até o frio estava no sonho! E era gostoso!

Viajar é horrível, porque torna o cotidiano mais chocante, mais feio, mais desprazeroso. Já no avião alemãs liam paperbacks de best-sellers de Danielle Steele, a aeromoça se recusava a me fornecer um outro tijolinho de manteiga e, no aeroporto, até os cachorros - pobres diabos - eram obrigados a trabalhar, conduzindo homens com problema de faro entre bolsas e malas.

E cães trabalhando - ouso dizer - deve estar nas escrituras de Nostradamus como sinal do fim dos tempos. Será que ainda dá tempo de eu tirar férias de novo, antes do mundo acabar?

Thursday, May 13, 2004

Shame, shame...

Aqui nos Euá é muito engraçado. Tipo assim, toda noite, toda noite mesmo, sem descanso, o Letterman apresenta quadros ridicularizando o presidente. Tem o "George W's joke that's not really a joke", o "George W pretends to pay attention" e o ótimo "George W tries to say..." alguma palavra qualquer que ele pronuncia de um jeito caipirão e o pessoal tira o maior sarro.

Isso só na CBS. Na NBC, toda noite também tem o Leno que passa os primeiros 15 minutos do seu programa fazendo piadinhas que invariavelmente envolvem o presidente. Fora isso, todo dia tem repórter escrevendo artigos malhando o presidente, o secretário de estado, o vice e tutti quanti. Esses não são engraçados, não, são bem dramáticos, até. E em todos os cantos do mundo mais outros tantos metem a boca nas políticas internacionais deste país no qual me encontro e fazem piada também e tudo a que se tem direito depois de se adquirir e mandar enquadrar o diploma de jornalismo.Mais engraçado ainda é que tem um pessoal que fala bem do cara também. Tem até gente que é a favor ou tem opiniões diversas. E é óbvio que tem gente pra meter o pau nesse pessoal também.

Esse mercadão de peixe é chamado carinhosamente de liberdade de expressão. Que é o orgulho nacional, a tal da Primeira Emenda. E tendo dito isso, meu texto acabava com um monte de palavrões dirigidos ao "efelentíffimo"(copyrights do puragoiaba) mandando ele pra lugares onde o sol não bate porque eu já estou exilada mesmo, dane-se. Mas daí pensei bem, achei que não valia a pena perder a compostura aqui, sendo que eu nem sou do sindicato, nem tenho carteirinha, nem leio o Times... Mas, no fundo, só me resta uma dúvida (porque ficou bem claro pro mundo todo que o presidente tupiniquim manguaça mesmo pois vestiu a carapuça da reportagem do NYT):

Lula, vem cá, conta de novo como foi que vossa "effelênfia" perdeu o mindinho, hein?

E em algum lugar do passado alguém tomou uma caipirinha com dedos do Lula, literalmente.

Monday, May 10, 2004

Caminhos Cruzados

Quando um coração que está cansado de sofrer
Encontra um coração também cansado de sofrer
É tempo de se pensar
Que o amor pode, de repente, chegar
Quando existe alguém, que tem saudade de alguém
E esse outro alguém não entender
Deixe esse novo amor chegar
Mesmo que depois
Seja imprescindível chorar
Que tolo fui eu
Que, em vão, tentei raciocinar
Nas coisas do amor
Que ninguém pode explicar
Vem, nós dois vamos tentar
Só um novo amor pode a saudade apagar

Friday, May 07, 2004

Vou me embora para a Liguria, pois là sou amiga do rei...

N. da E.: acentos ao contràrio, devido ao teclado italiano...

A vida é cruel?

Eh nada.

A realidade é dura?

Coisa nenhuma.

A realidade é linda, cheirosa, cheia de flores e cores e plantas. Embebida em molho pesto e vinhos e entrecortada por vielas e estradinhas e muros de pedra de milhares de anos. E gatos e cachorros debruçados nos muros e pàssaros cantando.

A realidade é bem melhor que qualquer sonho que eu jà tive. E eu achava que conhecia a realidade. Mas eu nao conhecia nada. Agora que eu vi a realidade bem de perto, quero ser uma menina boa, muito boa, pra na pròxima encarnaçao voltar em forma de gata aqui na Liguria.

Tuesday, April 27, 2004

- Sofia, e agora?
- Agora o quê?
- Agora que eu comprei passagem, to indo pra Sumatra, essa loucura toda...
- Ué, mas não era tudo o que vc queria?
- Era, mas eu esqueci até porquê eu queria tudo isso em primeiro lugar.
- Pra mostrar que a sua história pode dar certo.
- É, mas e se der errado?
- Se der errado? ué, mas história é história, a gente não pode ter medo de viver... ou de escrever... ou de contar... sei lá, já estou confusa, primeira pessoa, terceira pessoa, narrador, personagem etc.
- Ai, tô até com saudades da narradora. De ter alguém por trás pra botar a culpa. De esperar alguém escrever o meu destino. Esse negócio de virar narrador-personagem é complicado...

Friday, April 23, 2004

Tem que dar certo

- Cheguei em casa, chequei a secretária eletrônica e nada. Email: nada. Celular: nada. Desconfiei logo que o fato dele nunca mais ter me ligado só podia ser culpa da narradora da história. Liguei no escritório dele e disse que era a advogada da ex-mulher.
- E ele tem ex-mulher? perguntou Sofia, prestando atenção.
- Sei lá, mas ninguém discute com advogado muito menos se for de ex-cônjuge de colega de trabalho, entendeu?
- E aí?
- Descobri que ele está na Sumatra.
- Sumatra? disse Sofia, com dúvida legítima.
- Sumatra...? disse Dora, com dúvida geográfica.
- É. Comprei uma passagem e tô indo pra lá.
- Hã, como é que é?
- É isso aí, acabou essa brincadeira de amor que não dá certo, tô pegando o avião semana que vem. Vou mesmo, pagar pra ver. E chega de narrador-onisciente! Basta, entendeu, dona escritora?! Da minha história sei eu.
- ...Sumatra...
- Mas Clarinha, o que ele faz hein?
- Não sei, Sofia, ela (apontando pra fora da história) nunca explicou. E a Sumatra fica ao sul da Tailândia, Dora.

Wednesday, April 21, 2004

Motim

Clara: Liguei, liguei mesmo.
Dora: Você não falou que fui eu que te dei o telefone dela, né?
Clara: Claro que não, não disse nada.
Sofia: Mas como é que você tinha o telefone dela em primeiro lugar, Dora?
Dora: O Agenor, meu marido na história, tinha. Sabe como é que é né, ele é advogado, ela quis saber alguns detalhes sobre direitos autorais, claro que o Agenor deu uma ajuda e tal, e não cobrou nada, mas achei super sem compostura, muquirana, da parte dela, né?
Sofia: Ah, mas você sabe como esses escritores são né...
Clara: Ah é, mas eu falei tudo, tudinho. E o pior é que fiquei sabendo que ela ia dar um sumiço no Paulo. Logo agora que o bonitão me convidou pra ir ao cinema, tudo ia bem...
Sofia: Ela me parece uma daquelas pessoas que usam o pessimismo como mecanismo de defesa, sabe? Tipo, preferem imaginar tudo de ruim, tudo mesmo, porque assim acham que não terão surpresas ruins... sei lá.
Dora: Ah é, tudo tem sempre um porém com ela... preferia estar numa novela do Benedito, da Glória, vocês sabem, sempre acaba em casamento, gravidez, herança... isso daqui não está indo a lugar nenhum.
Sofia: Mas com ela tem sempre esse "quid pro quo". Ela dá com uma mão e toma com a outra...
Clara: E se a gente fizer a história dar certo, hein? Tipo assim, na marra?!

Monday, April 19, 2004

*Ler primeiro o post anterior "Mundos distantes....". E nos arquivos, ler "Mundos paralelos: indivíduos adjascentes".

- Alô.
- É do Poucas e Boas?
- Com quem você gostaria de falar?
- Você que é a escritora? então é com você mesma...
- Quem é?
- Ah, agora vai fingir que não me reconhece? É a Clara.
- Clara... minha personagem? Impossível.
- Impossível nada. Ó, tá me ouvindo? Tô bem aqui, do outro lado da linha.
- Mas eu nunca dou meu celular pra personagens...
- É o seguinte, eu não agüento mais. Primeiro você começou a história toda cheia de estilo, de palavras bacanas, de tramas confusas... quase matou a Dora, botou a Sofia numa deprê profunda e me deixou a ver navios com os meus namoradinhos. Aí apareceu aquele cara das palavras-cruzadas. Muito bacana, o pessoal até elogiou e eu achei que podia ficar tranqüila, que as coisas estavam dando certo e minha história estava chegando ao final feliz. Só que aí, misteriosamente você parou de escrever. E eu nunca beijei o Paulo, nunca!!! Tá me ouvindo?
- Você beijou sim, ficou subentendido.
- Nem vem que não tem, não há beijo subentendido, ou fode ou desocupa a moita. Aliás, por falar nisso...
- Ai, meu São Benedito...
- E tem mais, eu tenho o direito de ser feliz, poxa vida, acho sou uma personagem com potencial pra felicidade, mas esse último texto, pelamordedeus, tá muito ruim... Que história é essa de mar, de sábado de manhã, de se largar no sofá... Pô, tem que dar uma continuidade, eu achava que eu morava em São Paulo. Qual não foi minha surpresa ao me ver nesse tal apartamento com vista pro mar...onde estou, hein?
- Ai, Clara, menina, sabe que eu mesma me pergunto isso diariamente?
- É, mas a história é sobre quem? Eu ou você?

Friday, April 16, 2004

Mundos distantes: um sábado qualquer.

Clara entrou em casa e largou-se no sofá. A cara enfiada numa almofada, não queria luz do dia, não queria ver nada, queria entregar-se ao filme de sua memória, lembrar-se dos detalhes mais simples de tudo, do gosto de um beijo, das cócegas que sentiu quando aquela mão pousou em sua cintura, e por fim de tudo que acontecera em sua vida até ali, porque Clara, naquele momento, acreditava que tudo, todo erro, todo acerto, toda mudança, toda dor achava sua razão e sua explicação ali, naquela doce manhã de sábado, aquela calma manhã, aquele dia azul, e aquele pássaro pescando no mar em frente a sua casa. Quis controlar-se, mas o peito embargado de sentimentos sem nome, de sensações esquisitas, o frio na barriga, indicavam uma situação que ela conhecia muito bem. Era algo como "o que a planta deve sentir quando abotoa a primeira flor" (Machado de Assis). Colocou uma música. Marisa Monte. Não, Marisa Monte, não. Yo Yo Ma, aquele CD dos tangos. Tango faz muito sentido nessas ocasiões. E o dia passou por ela enquanto uma raíz de esperança, apesar de todo tango, tentava se fincar no solo ressecado de seu coração.

Thursday, April 15, 2004

(...)
Sì, straniero, quando sei giunto,
con angoscia ho sentito
il brivido fatale
di questo mal supremo.
(...)
C'era negli occhi tuoi
la luce degli eroi.
C'era negli occhi tuoi
la superba certezza...
E t'ho odiato per quella...
E per quella t'ho amato,
tormentata e divisa
fra due terrori uguali:
vincerti o esser vinta...
E vinta son... Ah! Vinta,
più che dall'alta prova,
da questa febbre che mi vien da te...

G. Puccini, Turandot

*Leia a tradução nos comments.

Monday, April 12, 2004

E no meio de tanta gente...

De repente um barco no meio da história, no meio do mar. Num domingo gostoso, ensolarado, sem rumo certo, sem pressa. Esse domingo transformou-se numa sexta-feira, noite estrelada, refletida em piscinas iluminadas, em líquidos coloridos em copos de falso cristal. Agora pressa, agora rumo definido, um beijo, ressonando por todos os lados, espalhando-se na areia, atirando-se ao mar. Um beijo azul enluarado que, como as ondas do mar fingem que terminam mas continuam, e continuam infinitamente, pela noite adentro, pela vida afora. Mas agora era manhã e uma gaivota caçava, inaugurando o sábado. O mar fingia não ter ondas, pra que as risadas e as conversas, que fingiam não ter pressa, pudessem se sobressair. E de repente, de frente aos azuis que se encontravam delimitando uma linha imaginária onde não termina o mar nem começa o céu, eu percebo que isso tudo é só o meio da história.

Tuesday, April 06, 2004

Just the average love story.

Pense comigo: você é um cara normal, nem bonito, nem feio, nem magro, nem gordo, nem alto, nem baixo, nem engraçado, nem muito inteligente... Mas você é muito rico. E fora isso tudo, você resolveu participar de um reality show chamado Average Joe (uma boazuda escolhe um namorado dentre um grupo de caras normais) assumindo suas próprias limitações no campo romântico perante milhões e milhões de telespectadores americanos ávidos por "realidade".

Daí, você está na liderança e, só pra sacanear - porque ninguém vai ganhando reality show assim numa boa, sem comer lesmas vivas, sem pular de veículos em movimento, sem passar por maus bocados - a produção introduz na brincadeira um grupo de, como dizer, modelo-manequim-ator Joes, pra concorrerem com os average-men. E você é o finalista do grupo dos normais, disputando o coração da solteirona com um projeto de Brad Pitt. Ok, quem vocês acham que a moçoila escolheu, hein?
É claro que foi o bonitão. Ué, o que vocês esperavam de uma cocota que se sujeita a isso em televisão nacional?

Mas o país inteiro (formado por average joes assumidos) tomou as dores do rapaz rejeitado e quiseram lhe fazer justiça. Average Joe 2 - Adam returns!!! E o tal Adam passou os últimos meses com umas vinte gatinhas, se divertindo de montão. Sob o pretexto de escolher uma namorada, beijou todas, tirou casquinha em tv nacional, fez tudo o que tinha direito. Afinal, leitor, se fosse você, você também não faria a festa?

No final, sobraram duas: Rachel e Sam. Uma bonitinha, meiguinha, ajeitadinha, inteligentinha, apaixonadinha. A outra charmosona, super fashion, super produzida, super maquiada, super dissimulada, super sabichona.

Vocês podem ouvir o rufar de tambores? Não? Nem eu. Não teve suspense nenhum. É claro que ele escolheu a segunda, a peruona da Sam. Se você é um average Joe que já assumiu publicamente que tem problemas para arranjar namoradas, você, em sã consciência, vai escolher a average jane pra namorar, quando te dão a chance de pegar aquela que é, sempre foi, muita areia pro seu caminhãozinho? Não, né. E eles partiram num jatinho juntos, tudo bem produzidão, bem "fachada", bem á là reality show.

Moral da história? Tá tudo ao contrário. Tudo.

Thursday, April 01, 2004

Thanks, Mr. Porter.

As Dorothy Parker once said
To her boyfriend, "fare thee well"
As Columbus announced
When he knew he was bounced,
"It was swell, Isabel, swell"

As Abelard said to Eloise,
"Don't forget to drop a line to me, please"
As Juliet cried, in her Romeo's ear,
"Romeo, why not face the fact, my dear"

It was just one of those things
Just one of those crazy flings
One of those bells that now and then rings
Just one of those things

It was just one of those nights
Just one of those fabulous flights
A trip to the moon on gossamer wings
Just one of those things

If we'd thought a bit, of the end of it
When we started painting the town
We'd have been aware that our love affair
Was too hot, not to cool down

So good-bye, dear, and amen
Here's hoping we meet now and then
It was great fun
But it was just one of those things

Tava faltando uma letrinha de música, porque blog que é blog, tem que ter. Sempre me pego pensando como sou muito comum mesmo... o que eu sinto, todo mundo já sentiu antes. E, mais que isso, já escreveram sobre isso, já foi musical da Broadway, já tá manjadíssimo e eu aqui, querendo inventar moda. Ah, just one of those things...

Wednesday, March 24, 2004

Ah, insensatez...

... que você fez... coração mais sem cuidado...

O que você fez? o que foi fazer dessa vez? Levanta. Do chão não passa.

Aprender a andar de bicicleta foi tão difícil. Mais difícil do que qualquer outra coisa que eu tenha aprendido depois. Na verdade, parecia fácil. Parecia muito mais simples. Até papai tirar a rodinha de aprendiz de um lado e introduzir o primeiro grande desafio a minha vida. E o primeiro sofrimento por antecipação também: se uma rodinha saiu é porque a outra vai ser removida também. (Acho que devo ter pedido a Deus, por favor, manter esse dia bem longe de mim. Sei lá, tomara que papai esqueça e deixe a rodinha aí até eu estar velha, bem velha, com uns 16 anos.)
Adeus à segunda rodinha, alô para a realidade, sem corda de segurança, sem rede protetora, sem nada pra te segurar.

É inevitável: você vai cair.

E cair não é nem de longe o maior de seus problemas.

Tuesday, March 16, 2004

De noite na cama

At night in my bed... tossing and turning. I tried to go to sleep early enough so that I would be transported immediately into my dreams and maybe postpone my usual revolvings around the same subject, compositions about the same theme, the same questions, the same doubts. And finally, at 5am, as the day arrived, after my brain was blank of thoughts and the eyes popping open with the light of the early morning, the only question dawning in me was why the hell did I have the pasta with the hot tomato sauce?!
And I kept looking for answers I did not have and the sun kept on rising regardless of the last remains of the night he was stealing from me.

Escuta, dona escritora, dá pra parar de fazer nossos 'olhos leitores' de penico, hein? Ninguém quer ficar lendo essas ladainhas, manda texto de verdade aí por favor.

Oh please, you have to allow me my moments of mental masturbation here, after all, I am just an aspiring writer, trying new things, and well, after all that Sun Tzu left in the world, cut me some slack, let me fail better a little bit.

Bibliografia:
De noite na cama - Caetano ou Marisa Monte
Hot tomato sauce - Cabana Lounge Café
Sun Tzu - The Art of War
Fail Better - Samuel Beckett: "Ever tried, ever failed, no matter. Try again, Fail again, Fail better."

Friday, March 05, 2004

Nome-não

De todas as coisas às quais se pode dar nomes, as mais importantes são aquelas que palavras não descrevem nem alcançam. Aquilo tudo que está no vácuo dos nomes, onde o som não se dissipa, onde abrimos a boca inutilmente e ficamos sem fala no meio do liquidificador das nossas emoções, um barulho ensurdecedor dos sentimentos transbordando e a gente sem saber como explicar.

Tem amor, tem dor, tem saudades (que, aliás, só tem na nossa língua), tem inveja, raiva e ciúmes. Mas tem um buraco no alto do estômago, uma dorzinha meio gostosa, meio esquisita, como se fossem cócegas, e isso não tem nome. Tem também aquele vaziozão no meio do peito que, quando a gente respira, até chega a doer. E aquela sensação de refluxo na garganta, tipo um soluço ao contrário. Sei lá como chamar essas coisas, elas desabrocham sem nome tão dentro da gente. Mas, na maioria das vezes, a gente nem quer saber como aquilo se chama, porque ou estamos muito felizes e não importa, ou estamos tristes e só queremos esquecer.

E, baseando-me nisso tudo é que eu digo que não sei o que estou sentindo.

C.Q.D.

Monday, March 01, 2004

Apenas uma pausa de mil compassos

Verdade. Pura. Insípida, inodora e incolor. E só. Como disse Machado de Assis, nenhum vinho pode embriagar tanto como a verdade. Mas a que preço? Toda verdade é super faturada, abrimos um crediário, parcelas a perder de vista. Porque para tê-la, há que se pagar pra ver. E eu quero ver, não conheço alternativa pro crediário doloroso da verdade. Mentira, nem de graça. E eu tô vendo a Briga dobrando a esquina na nossa direção, tô vendo a Dor de soslaio esperando sua 'deixa', e a Solidão já está comemorando o gol. De novo, na minha trave, bola fora do destino. Mas eu tô pagando, quero ver jogo. E afinal, a bola respinga e continua rolando. E a gente correndo atrás.

Friday, February 13, 2004

Consolo na Praia

Um desses dias em que somente clichês podem me confortar. A vida é dura, a vida é curta, a vida tem dessas ironias. Deus é pai, Deus é brasileiro e escreve certo por linhas tortas. O Amor é cego, o amor é sofrimento, o amor é uma flor roxa que nasce no coração do trouxa. E o Amor é isso mesmo que você está vendo. Hoje beija, amanhã não beija, depois de amanhã é domingo, e segunda-feira ninguém sabe o que será. Mas o tempo cura tudo, tudo passa, tudo tem solução. Dê tempo ao tempo - apesar de a vida ser curta, pode parecer ilógico, mas o coração tem razões que a própria razão desconhece. E só assim, pra levar o dia hoje. E, enfim, um dia depois do outro, a gente vai levando pois o que não tem remédio, remediado está e como vovó dizia, Deus dá o cobertor conforme o frio. E entre cobertor, frio, Deus, remédio, vovó e o tempo, eu fico com beijo na boca. E, pra beijo na boca, ainda bem, não consegui encontrar nenhum clichê.

Trechos incidentais de Carlos Drummond de Andrade

Thursday, January 22, 2004

These foolish things...

The few minutes of relaxation before the vigorous stretching of a Yoga class. The spontaneous dripping of my paintbrush staining the paper. The salty smell of the ocean blowing through my window. A good strectch with big wide movements in the middle of the day followed by a reckless yawn. Going home after a long and hard day knowing to find peace and music and the warm shower all to yourself. And singing in the shower at the top of my lungs. The day is over, finally, another day. I lay my head down and let the thought of you linger on into a dream. Because all those little pleasures remind me of you.

Saturday, January 03, 2004

Ai Se Sêsse

Zé da Luz

Se um dia nóis se gostasse
Se um dia nóis se queresse
Se nóis dois se empareiasse
Se juntim nóis dois vivesse
Se juntim nóis dois morasse
Se juntim nóis dois drumisse
Se juntim nóis dois morresse
Se pro céu nóis assubisse
Mas porém se acontecesse, de São Pedro não abrisse
A porta do céu e fosse te dizer qualquer tolice
E se eu me arriminasse
E tu com eu insintisse
Prá que eu me arresouvesse
E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Távez que nóis dois ficasse
Távez que nóis dois caisse
E o céu furado arriasse
E as virgem toda fugisse

Começando o ano com Cordel.