Wednesday, June 09, 2004

Tacones Lejanos

Eu não sei lidar com a frustração, sabe, eu tenho vontade de rasgar todo o forro do sofá, de quebrar toda a louça, de atirar copos e vasos contra as paredes da casa... tipo novela das oito, sabe, acho que no fundo é tudo culpa das novelas das oito, que fazem a gente criar esse repertório maligno de ataques de cólera, e se não fizermos isso, parece que ficou faltando o gran finale, parece que nem estamos tão bravos, pensa bem, que coisa melhor pra demonstrar angústia e frustração do varrer com braços raivosos uma penteadeira inteira cheia de perfumes, coisinhas, vidrinhos, e ver tudo cair no chão? Nada pode aliviar tanto. Eu quebrava todas as minhas bonecas, arrancava os braços, as pernas, rabiscava a cara delas, eu acho que no fundo não é culpa das novelas, no fundo eu já era assim, eu já tinha esses ataques, essa vontade de destruir alguma coisa pra passar a raiva, mas tem que ser alguma coisa repentina, não adianta eu chegar lá em casa e ficar esmurrando uns travesseiros, dizendo os nomes da minha lista negra, sabe, isso não adianta, ajuda um pouco, mas sempre me sinto ridícula, entende, o legal é chegar com a cabeça fervendo e ver pela frente alguma coisa que a gente possa chutar assim, logo de cara, quebrar, atirar... tem um vaso lá em casa, um vaso horroroso, que a menina que mora comigo, adora, não consigo entender como, o negócio é um elefante branco que ela mandou trazer do México, deve pesar mais de 50 quilos, juro por Deus, fica num canto da sala, e me é muito pertubadora a presença daquele vaso, que ela chama de urna, ainda mais urna, coisa fúnebre... agora me imaginei com o martelo, que eu comprei pra pregar uns quadros, martelando aquele trambolho até virar 50 quilos de pó no chão, ia ser bem relaxante, é, mais até que shiatsu. Mas não dá, e como não tem Yoga hoje, vou fazer compras.

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