Thursday, June 24, 2004

- So, what's the problem? Tell me.
- Ok. I'm in love.
- Ufff... I'm so relieved!
- Why?
- I thought it was something worse.
- Worse? Worse than the total agony of love?!

Dialogue excerpt from 'Love Actually'.

Thursday, June 17, 2004

Flatliner

Ontem, durante uma reunião, eu juro que entrei num estado de coma leve. Quase tive morte cerebral. Mas, graças ao movimento do meu maxilar mastigando um chiclete, um mínimo de células cerebrais se mantinham ativas e não houve sequelas. Quer dizer, eu acho que não.

Friday, June 11, 2004

Murmullo

Hay un suave murmullo
En el silencio de una noche azúl
Son dos enamorados
Que, encantados, gozan del amor.

Y ríe la vida y qué dice así: Ahh, ahh...
Y ríe la luna y qué dice así: Uhmm, uhmm...

Afinal, mesmo despeitada, ainda faço questão de manter o romantismo... Aahhh, uhmmm...

Wednesday, June 09, 2004

Tacones Lejanos

Eu não sei lidar com a frustração, sabe, eu tenho vontade de rasgar todo o forro do sofá, de quebrar toda a louça, de atirar copos e vasos contra as paredes da casa... tipo novela das oito, sabe, acho que no fundo é tudo culpa das novelas das oito, que fazem a gente criar esse repertório maligno de ataques de cólera, e se não fizermos isso, parece que ficou faltando o gran finale, parece que nem estamos tão bravos, pensa bem, que coisa melhor pra demonstrar angústia e frustração do varrer com braços raivosos uma penteadeira inteira cheia de perfumes, coisinhas, vidrinhos, e ver tudo cair no chão? Nada pode aliviar tanto. Eu quebrava todas as minhas bonecas, arrancava os braços, as pernas, rabiscava a cara delas, eu acho que no fundo não é culpa das novelas, no fundo eu já era assim, eu já tinha esses ataques, essa vontade de destruir alguma coisa pra passar a raiva, mas tem que ser alguma coisa repentina, não adianta eu chegar lá em casa e ficar esmurrando uns travesseiros, dizendo os nomes da minha lista negra, sabe, isso não adianta, ajuda um pouco, mas sempre me sinto ridícula, entende, o legal é chegar com a cabeça fervendo e ver pela frente alguma coisa que a gente possa chutar assim, logo de cara, quebrar, atirar... tem um vaso lá em casa, um vaso horroroso, que a menina que mora comigo, adora, não consigo entender como, o negócio é um elefante branco que ela mandou trazer do México, deve pesar mais de 50 quilos, juro por Deus, fica num canto da sala, e me é muito pertubadora a presença daquele vaso, que ela chama de urna, ainda mais urna, coisa fúnebre... agora me imaginei com o martelo, que eu comprei pra pregar uns quadros, martelando aquele trambolho até virar 50 quilos de pó no chão, ia ser bem relaxante, é, mais até que shiatsu. Mas não dá, e como não tem Yoga hoje, vou fazer compras.

Final no. 2

Angela O'Keefe termina o show - ou seja eu, no meu sonho. Entro em meu camarim e olho para as flores com um sorriso misterioso nos lábios, (sempre misteriosa, sempre misteriosa). Abro o cartão. Alguns segundos de silêncio seguem. Sirvo-me de gin, straight up. Ando de um lado ao outro do quarto. E então, tomada de cólera, rasgo o bilhete e atiro o vaso de flores contra o espelho. Assustados com o barulho, entram correndo em cena Butch Rigby e Stu Francis, este último, o pianista. Butch exclama com reprovação "Not again, Angie, not again!". E eu, colérica, já um pouco bêbada e entre soluços diria "You just don't understand, Butch, you just don't get it!" - aqui, encostada na parede, com o copo na mão, escorregando vagarosamente até chegar ao chão (sim, como aquelas cenas de novela das oito). Stu tentaria me levantar, mas irritada eu gritaria "Get out, get out, leave me alone, let me be!". A câmera seguiria Stu e Butch até o bar onde em silêncio trocariam olhares preocupados. Corte. A câmera voltaria para meu camarim, onde eu estaria tirando a maquiagem, vestida agora com um pegnoir amarelo com plumas na gola e mangas, chorando profusamente. A seqüência termina com um plano geral do bar, onde Stu e Butch bebem algo e Jules McMannus, o barman, diria "Life goes on. She'll sing tomorrow, I know she will".

Tuesday, June 08, 2004

More than you know...

Imagine um piano de cauda, um saguão de um hotel, à meia luz, algumas mesas têm velas acesas, outras não, fumaça cria texturas pelo ar. O pianista entra, mas as pessoas continuam a sacudir as pedrinhas de gelo dentro de seus uísques, produzindo um tilintar contínuo. Ele estala os dedos, timidamente, e começa a dedilhar o piano. De repente: silêncio. Imagine uma mulher ruiva, irretocável, vestido preto, baton vermelho, entrar flutuando pelo palco. Sou eu. (Tá, tá, tá, eu confesso, eu sou a Rita Hayworth em meus sonhos.)
Então, com ar triste e misterioso, em parte por culpa do cabelo que esconde um olho e meia maçã do rosto, eu (ou a Rita Hayworth, caso o leitor não me conheça pessoalmente)começo a cantar:

More than you know
More than you know
Man of my heart, I love you so
...Aqui eu desencaixo o microfone do tripé e começo a caminhar...
Lately I find
You're on my mind
More than you know
...tomo um gole de um copo de uísque de alguém na platéia...
Whether you're right,
whether you're wrong,
Man of my heart, I'll string along
I need you so
More than you'll ever know...
Agora eu acendo uma cigarrilha em uma longa piteira e sento-me em cima do piano e o resto do show fica ao gosto do leitor. Lembrem-se que o strip-tease seria apenas tirar as luvas e depois sacudir a cabeleira.

E quando eu me retirasse para meu camarim - "Changing Room of Ms. Angela O'Keefe" (esse é o meu alter-ego onírico) - eu encontraria um buquê de rosas - vermelhas, é logico - leria o cartão e daria sonoras gargalhadas. Sem nem me trocar, retocando apenas o baton e o perfume, sairia com pressa, sem esquecer um casaco de pele. Um Bentley já estaria me esperando e Butch Rigby, o dono do bar do hotel, viria correndo atrás do carro, mas não nos alcançaria. Arrancaria o chapéu e o bateria contra a própria perna de tanta raiva e... curiosidade. Ninguém poderia saber de quem eram as rosas.

Thursday, June 03, 2004

The book is in the fireplace.

N. da E.: Pode ser um spoiler para o filme "The day after tomorrow", mas eu acho que não.

Nove personagens, mais ou menos, presos numa biblioteca em Nova Iorque, sem eletricidade e a temperatura caindo bruscamente, resolvem queimar livros numa lareira secular para se manterem aquecidos. A bibliotecária engole seco, soltando um pequeno gemido mas, as far as she is concerned, é capaz de não sobrer ninguém no fim do filme pra ler livros... Um segundo bibliotecário e uma adolescente saem para buscar livros pelos corredores da biblioteca.

Faço pausa pra reparar como esta profissão teve destaque nesse filme: 2 bibliotecários entre 9 pessoas. É de se pensar se não foi coisa de sindicato contra Hollywood, dizendo que tal classe nunca havia sido representada na big screen etc... But I digress.

Bom, voltando ao filme, rola uma discussão entre os dois, porque a mocinha quer queimar alguns volumes de Nietszche e o bibliotecário resolve fazer um discursinho sobre qualquer coisa como Nietszche ser o maior pensador do século XX - afinal o filme é de ficção mesmo - até que outro personagem chega e diz 'deixem disso, rapaziada, vamos começar pela sessão de direito'!
Todo mundo respira aliviado: claro! vamos queimar as leis, o mundo está acabando mesmo...

Alguns minutos mais tarde, a garota e o bibliotecário se enfrentam novamente. Ele abraçado a um livro grosso, pesado, antigo. Ela vem curiosa e ávida por uma boa briga, que me parece bem verossímil no caso dos adolescentes, e pergunta 'Que livro é esse?'

Era a Bíblia. Ela diz, irônica, ' Você acha que Deus vai te ajudar, huh?'

Ele diz com desdém 'Claro que não! Eu só estou salvando essa bíblia porque foi um dos primeiros livros a ser impressos ever in the history of humanity. If human civilization is going down as we know it, I want to save a little piece of our culture, of our times..., ou qualquer coisa do gênero. Bullshit. Double bullshit.

Agora, sejamos francos, se uma tsunami tivesse invadido NY, uma nova era do gelo estivesse se abatendo sobre todo o hemisfério Norte e você estivesse preso numa biblioteca com uma adolescente irritante, você não ia pedir a Deus pra te salvar?!

Sei, sei. Conta outra.

Moral da história: os livros salvam.