Imagine um piano de cauda, um saguão de um hotel, à meia luz, algumas mesas têm velas acesas, outras não, fumaça cria texturas pelo ar. O pianista entra, mas as pessoas continuam a sacudir as pedrinhas de gelo dentro de seus uísques, produzindo um tilintar contínuo. Ele estala os dedos, timidamente, e começa a dedilhar o piano. De repente: silêncio. Imagine uma mulher ruiva, irretocável, vestido preto, baton vermelho, entrar flutuando pelo palco. Sou eu. (Tá, tá, tá, eu confesso, eu sou a Rita Hayworth em meus sonhos.)
Então, com ar triste e misterioso, em parte por culpa do cabelo que esconde um olho e meia maçã do rosto, eu (ou a Rita Hayworth, caso o leitor não me conheça pessoalmente)começo a cantar:
More than you know
More than you know
Man of my heart, I love you so
...Aqui eu desencaixo o microfone do tripé e começo a caminhar...
Lately I find
You're on my mind
More than you know
...tomo um gole de um copo de uísque de alguém na platéia...
Whether you're right,
whether you're wrong,
Man of my heart, I'll string along
I need you so
More than you'll ever know...
Agora eu acendo uma cigarrilha em uma longa piteira e sento-me em cima do piano e o resto do show fica ao gosto do leitor. Lembrem-se que o strip-tease seria apenas tirar as luvas e depois sacudir a cabeleira.
E quando eu me retirasse para meu camarim - "Changing Room of Ms. Angela O'Keefe" (esse é o meu alter-ego onírico) - eu encontraria um buquê de rosas - vermelhas, é logico - leria o cartão e daria sonoras gargalhadas. Sem nem me trocar, retocando apenas o baton e o perfume, sairia com pressa, sem esquecer um casaco de pele. Um Bentley já estaria me esperando e Butch Rigby, o dono do bar do hotel, viria correndo atrás do carro, mas não nos alcançaria. Arrancaria o chapéu e o bateria contra a própria perna de tanta raiva e... curiosidade. Ninguém poderia saber de quem eram as rosas.
Tuesday, June 08, 2004
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