Saturday, February 13, 2010

Reality check: uma década de blogs.

Ver gente que bloga a essa altura me dá um tédio.

(Eu sei que estou blogando, but indulge me a little digression, please.)

Sei lá, o blog é uma das coisas mais anacrônicas do mundo... como pessoas que ficaram presas no Woodstock pra sempre, hippões decadentes, que acham que o sonho ainda não morreu, que acham que rolar na lama deveria ser aceito socialmente... O sonho morreu, minha gente. Porque os blogs viraram a coisa mais democrática possível. E ficaram cada vez mais fáceis de criar, de postar, de postar imagem, vídeo, música... e aí a quantidade de lixo cybercósmico foi crescendo em progressão geométrica (que, inclusive, outro dia em um blog estava escrito PG e fiquei revoltada... tipo assim, na boa, digita todas as letras, vai....você já tá aí na frente do teclado, faz esse esforço a mais por esse seu cazzo de blog).

E por isso eu parei, eu me retirei do circuito. Eu até me inscrevi no twitter. E odiei. Quer dizer, por 2 segundos foi legal. Depois cansei de ler sobre a vida alheia, sabe. Tem coisas que a gente não quer saber de você, neguinho. Não quero saber se você brigou com a namorada, se você está feliz ou triste, se vai passar o carnaval sei lá onde com sei lá quem. (E acreditem em mim, eu adoro fofoca, mas isso simplesmente é lixo por escrito, na boa, bota num diário e guarda só pra você).

No ínicio, 7, 8 anos atrás, os blogs tinham que ser relevantes. O blogueiro queria oferecer um serviço público, uma alternativa a outros sites, uma pausa, uma dica, uma opinião... e tinham muito menos pessoas lendo, menos visitantes, menos googleisms pra drive audience, definitivamente menos dólares por google ads.... a gente encontrava um blog saltando de um pro outro, e quando encontrava alguém ou alguma coisa relevante, boom!, era ouro. A gente escrevia um comentário verdadeiro, sincero, não só pra poder enfiar o link do nosso blog ali e conseguir mais visitantes... O blog não era um diário no sentido de um super fluxo de vômitos do dia-a-dia, o blog era um ensaio importante sobre coisas de interesse de nichos de mercado. Tinha gente que escrevia de música ou de tecnologia ou de literatura... tinha gente que escrevia sobre a vida e coisas mais subjetivas, mas era gente que escrevia com vontade de analisar e encontrar uma relevância naquilo tudo pra si mesmo e pra conquistar um leitor, unzinho que fosse já tava bom. Ninguém escrevia por escrever (ou melhor, tinham muito menos pessoas que o faziam). A escritura em si era importante, o estilo, a narrativa, a realidade, uma certa preocupação com essa relevância do universal que a web proporciona. Cada um num país e numa situação diferente podendo entrar em contato e discutir diferenças ou comentar semelhanças ou simplesmente contar um pro outro coisas que o outro gostaria de saber. (Eu acho que tinha um código de ética silencioso entre todos os blogueiros de não abusar da paciência do leitor.)

Engraçado que alguns blogs depois viraram livros. E na época achei ridículo. Mas agora, looking back, no fundo fazia sentido porque alguém teve vontade de separar o joio do trigo, por assim dizer. E aqueles blogs, a maioria deles, acabaram. Porque no mundo onde todo mundo tem um blog, aqueles blogs perdiam seu valor, sua importância e sua raison d'etre.

O meu blog nunca virou livro. Mas eu juro que sempre tentei ser relevante, porque se me sentava aqui na frente do blogger é porque queria fazer um esforço mínimo e quando clicasse finalmente no "publish post" aqui embaixo sentisse uma satisfação de ter escrito um texto bacana, com cuidados, com sutilezas, com talvez um estilo que era só meu. Alguns gostavam, eu gostava. A verdade é que nós sempre escrevemos pra nós mesmos em alguma porcentagem, mas tem gente que faz um esforço a mais pra balancear a equaçao com o leitor (aquele unzinho mesmo que ainda lê a gente, e em tempo, obrigada).

Mas hoje eu li um post em um blog de uma amiga que nem sabia que ela blogava ainda e me deu uma sensação tão boa de que foda-se tudo e todos os blogs ruins. O blog dela é legal, me deu saudades dela pra caramba e me deu vontade de contar histórias pra ela e de ouvir as histórias dela. E tem blogs bem legais por aí ainda. E tem gente que se importa ainda em escrever com esforço e merece ser lida.

E falo principalmente pelos outros, porque eu quase não escrevo mais, mas entre uma mamadeira e uma fralda suja, quando sento na frente do computador, posso ainda ler alguma coisa muito engraçada, interessante e relevante que outros blogueiros estão postando por aí.

É difícil voltar a blogar.

1 comment: