Friday, February 19, 2010

Quilos a mais.

Eram todos meios rechonchudos naquele escritório. Todo mundo comia mal, rápido demais, porcaria demais, lanchinhos demais, simplesmente demais. Ninguém fazia exercício. Afinal quem tem tempo ou saco? Mas pra ela foi a última vez que o jeans não fechou depois do almoço.

Fez um regime férreo, perdeu 17 quilos. Não do dia pra noite, mas quase. Claro, sem exercícios e com um comprimidinho basico. Todos os jeans estavam largos. Todas as roupas, as saias e até as calcinhas.

Comprou tudo novo. Sapatos de salto alto que faziam barulho no assoalho de casa. Duas vezes por semana se concedia encher a cara com as amigas, mas no dia seguinte jejum. Um dia, depois da bebedeira entrou em casa, tic toc tic toc tic toc, caiu na cama, procurou a bunda quentinha do namorado e constatou infeliz que nem ela (aquela bunda) lhe dava a satisfação que procurava. Trocou o armário e o namorado. Não assim tão de repente, mas ao longo desse seu processo de mudanças radicais.

Ah, e trocou de emprego também. Magra, se sentia mais confiante, mandou o ex-chefe se fuder, saiu batendo a porta e conseguiu um emprego melhor, quer dizer, com o salário melhor e com um pouco menos de colegas obesos.

A noite em casa ouvia somente o barulho dos seus próprios sapatos, inclusive fazia questão daqueles tamanquinhos com salto. Pra se sentir menos só, ligava a televisão e se recusava terminantemente a comer. Subia na esteira e mandava brasa.

De Natal, naquele ano, se deu de presente uma tatuagem. Como era? Muito, muito, muito clichê. Tão clichê que não quero desperdiçar uma frase pra descrevê-la. Aliás, tudo muito clichê, falta apenas uma cirurgia plástica pra corrigir o nariz ou orelhas de abano. Mas, no final, resta observar que as pessoas em geral subestimam muito o conforto do clichê.

Ela gostou da tatuagem, do guarda-roupa e do emprego novos, vivia praquela sua imagem magra, frágil, cinturinha, quase sem bunda, e estava feliz assim mesmo.

E a história acaba aqui porque clichê é como o Golf, só é divertido pra quem está jogando, não pra ficar assistindo.

No comments: