Thursday, June 23, 2011

Supercordas, um argentino e 2 sacolas de supermercado.

Se tem uma coisa na qual eu acredito é a teoria das supercordas. Eu tô lá, anos atrás me vendo sozinha na Barnes&Noble comprando livros que eu nem tinha muita vontade de ler e que ainda custaram caro pra depois mandar de volta pro Brasil em caixas com o resto dos meus badulaques que ficou perdido em algum canto entre a casa do meu pai e do meu irmão. Eu tô lá nesse exato momento, experimentando um rímel novo no Walgreens, passando no drive-thru do KFC, dirigindo meu Neon vermelho e podrão comprado de um argentino que mentiu nos documentos o ano de fabricação do carro. Tô lá, saindo do supermercado com nada de realmente saudável nas sacolas, tipo pasta de amendoim, ginger ale diet, uns cereais matinais com pedacinhos de marshmellow, uma coisa deliciosa que chamava Triscuit e muito cream cheese. Tô ali minding my own business, quando me vejo aqui, anos depois, mas no mesmo instante, saindo do supermercado, com 2 sacolas cheias de leite e fraldas e biscoitinhos e nutella e umas coisas saudáveis e sprite diet. Eu olho pra mim do outro lado da corda do meu tempo passando: o que é a realidade? Eu sou um fantasma agora, vindo lá do passado mas ao mesmo tempo já tinha assombrado a mim mesma, vindo do futuro, com sacolas num braço e filhos no outro e cabelo desgrenhado e os quilos a mais (inevitáveis?).
Às vezes juro que tenho medo de acordar do lado de lá como num filme em que o personagem central tem a chance de ver como seria a vida dele se tivesse mudado alguns detalhes aqui e ali. Mas de repente percebo que eu estou aqui e ali, simultaneamente do lado de cá e de lá. O problema é que tem vezes que não me reconheço e me deixo passar despercebida nesse choque de realidades paralelas. Eu não me vejo, eu vejo outra que não sei mais quem era ou então nunca mais saberei. Quem será que sou eu?

Tea for two

E finalmente acabou o dia. E eu não escovei o dente, nem o cabelo. Eu esqueci. E não fiz nada de produtivo... o que provavelmente não é verdade mas eu me sinto assim. Passei o dia inteiro tirando alternadamente as tetas pra fora, massageando-as pra sentir se tinha leite, preocupando-me porque eu achava que não tinha leite, e o bichinho mamando mesmo assim e dando uns apertões no meu seio, habilidade que ele acabou de assimilar, com as mãozinhas em punho. E eu nem jantei. Eu fiz o jantar, eu dei o jantar, eu dei 2 banhinhos, eu pus dois pijamas eu troquei umas mil e quinhentas fraldas... e aproveito pra dizer que o que eu produzi hoje foi uma lata de lixo enorme e cheia e fedida, no banheiro. Aliás, foram meus filhos que produziram o recheio das fraldas. E, se no fim do dia, a gente sente que só tem essa latona de lixo pra mostrar, vem aquele suspirinho curto meio entalado na garganta que nos faz pensar com tristeza que o dia finalmente acabou. Um dia cheio e vazio ao mesmo tempo, igual a outros quase mil dias que já passaram e quem sabe quantos mais iguaizinhos virão pela frente. E eu nem me vejo mais. Eu vejo a rotina engolindo tudo.