Thursday, May 29, 2003


-- Writer's Block?

-- No. Writer's lazy.

Tuesday, May 20, 2003


Mrs. Dalloway

Podia usar a piscina, depois não podia usar mais. O dia amanhaceu lindo e eu pulei da cama com medo de que estivesse chovendo. Suspirei aliviada e fiquei pulando de um lado pro outro porque tinha dado um mal jeito no pé esquerdo. E fui fazendo as coisinhas todas fora de ordem, limpando daqui, arrumando a mesa dali, até que o brigadeiro não ficou no ponto e não deu pra enrolar - e o que faço agora com tudo aquilo de chocolate granulado e forminhas? Tinha esquecido até de tomar banho e passei 5 minutos decidindo se ia lavar a cabeça, se daria tempo do cabelo secar, se eu ia fazer escova ou deixar secar ao natural. Lavei tudo. Foi aí que não podia mais usar a piscina, que só podia usar até as nove da noite, que não podia fazer nada e não tinha nenhum superior pra gente reclamar, porque porteiro é igual em todo lugar do mundo. Troquei de roupa em cima da hora e me concentrei pra botar meu sapato de salto mais alto e foda-se o pé machucado, agora era pra ele funcionar direito. E a porta foi se abrindo em intervalos próximos e desiguais e no meio de papel de presente, sanduíches e caipirinha, muito flash e gargalhada. E Campari, porque é vermelho e me faz lembrar do meu pai que me fez chorar na frente de todo mundo quando finalmente a ligação chegou no meu celular porcaria pré-pago. Pai, tava triste que vc ainda não tinha ligado - e soluços. E klinex. E dá-lhe bossa-nova e samba e salsa. Nunca o espaço fica pequeno, a gente aperta mais pouquinho e traz a cadeira do quarto, o banquinho da cozinha e vai repondo o salaminho, o presunto crú o queijo suiço e o requeijão que passa de mão em mão quando chega o pão-de-queijo. Quando alguém bate na porta e tenho um enfarto do miocárdio. Mentira. O sangue pára todo em alguma parte do meu corpo e eu, estátua, mostro os dentes e digo "oi". Ou "hola", ou "hi". Não lembro. Nem comi nada. Fiquei lá observando a bagunça e adorando cada segundo. Dividindo cadeira cada hora com um convidado e aproveitando uns dedinhos de prosa. Quando resolvemos transgredir as regras e viva a vista linda da piscina, o sol já tinha se posto, mas o céu é sempre um espetáculo. Olha a Lua! E a pergunta foi se eu era romântica e era tarde demais. Eu sou. Eu não. E mesmo assim gostei da resposta sincera. E mesmo assim foi uma noite linda e o céu um espetáculo e pra mim, a Lua. E o coração apertou. E o ar faltou. E o aniversário passou lindo por mim que nem lembrava quantos anos tinha.

E lembrei por fim que tinha me esquecido das flores pra enfeitar a casa. Mas a casa já estava tão alegre. E eu também.
Quem nunca cortou a língua lambendo a lata de leite moça ou nunca queimou a boca com brigadeiro quente não sabe o que é fazer aniversário.